sábado, 5 de dezembro de 2009

A história de Narciso


"O Alquimista pegou num livro que alguém na caravana tinha trazido. O volume estava sem capa, mas conseguiu identificar o seu autor: Óscar Wilde. Enquanto folheava as suas páginas, encontrou uma história sobre Narciso.
O Alquimista conhecia a lenda de Narciso, um belo rapaz que todos os dias ia contemplar a sua própria beleza num lago. Estava tão fascinado por si mesmo que certo dia caiu dentro do lago e morreu afogado.
No lugar onde caiu, nasceu uma flor, que chamaram de narciso.
Mas não era assim que Óscar Wilde acabava a história.
Ele dizia que quando Narciso morreu, vieram as Oréiadas – deusas do bosque – e viram o lago transformado, de um lago de água doce, num cântaro de lágrimas salgadas.
- Por que choras? – perguntaram as Oréiades.
- Choro por Narciso – disse o lago.
- Ah, não nos espanta que chores por Narciso – continuaram elas.
- Afinal de contas, apesar de todos nós sempre corrermos atrás dele pelo bosque, tu eras o único que tinha a oportunidade de contemplar a sua beleza.
- Mas Narciso era belo? – perguntou o lago.
- Quem mais que tu poderia saber disso? – respondera, surpresas as Oréiades. – Afinal de contas, era nas tuas margens que ele se debraçava todos os dias.
O lago ficou algum tempo em silêncio. Por fim, disse:
- Eu choro por Narciso, mas nunca tinha percebido que ele era belo.
“Choro por Narciso, porque todas as vezes que ele se debraçava sobre as minhas margens eu podia ver, no fundo dos seus olhos, a minha própria beleza reflectida.”"

Começa assim, o mais belo livro que algum dia li.....
Quatro vezes foi relido, nas mais variadas alturas da minha vida. A primeira vez foi aos 13 anos, a quinta vez será aos 27 anos.

Este livro têm nas suas palavras uma mística inexplicável. Cada vez que o re-leio sinto-o de outra forma.
Hoje ao recomeçar, esta história de Narciso, fez-me recordar um velho e grande amor.
E percebi que se se hoje choro, porque as vidas tomaram rumos diferentes e distantes, não é por esse velho amor ter sido belo, mas sim porque cada vez que eu olhava bem dentro do seu olhar, via a minha própria beleza, a minha verdadeira essência.
Agora que não o tenho, percebo que a beleza até pode continuar em mim, mas eu, deixei de ter a capacidade e os meios de a ver.

Sem esse velho e grande amor.... a vida continua, mas a história essa é outra.

Voltando às páginas do “Alquimista” de Pedro Coelho..... até breve.

2 comentários: