segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

"O dia em que te esqueci"


"(...) Vivi iludida durante tanto tempo, julgando que o amor era feito de grandes arrebatamentos! Até o será, certamente, para os espíritos apaixonados. Mas tem de haver muito mais. Momentos perdidos no tempo não enchem dias. Noites sozinhas na cama a desejar o teu corpo ao meu lado, semanas, meses, anos de solidão povoada de segundas escolhas, até apareceres outra e outra vez, e para quê? Para me obrigares a pôr o coração ao espelho e depois desapareceres de novo? Para assegurares que o meu amor por ti se mantinha, eterno, certo, intemporal, intocável?

Tu não voltavas por mim, voltavas por ti e para ti. Os teus regressos serviam para marcares ainda e sempre o teu território. Mas tu alimentavas a ausência, o vazio, o gande equívoco de todo este amor. Porque na verdade, meu querido, estou agora em crer que nunca houve amor. Não da tua parte.

Há alguns meses, voltaste a afirmar que olhavas para trás e vias uma pessoa muito especial e importante. Mas enquanto me viveste sempre negaste, lembraste? Eu é que era a louca, que te perseguia, a teimosa que não te largava, a obstinada que não desistia (...)."


Por Margarida Rebelo Pinto in O dia quem que te esqueci.



Magnifico livro, este que ando a ler.... surpreendente.

Vale a pena ler. Como diria a autora: para as mulheres que viveram um grande amor e para os homens que o perderam!


segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Eu venho no fim

" Na lista dos teus fins, venho no fim
de uma página nunca publicada,
e é justo que assim seja, embora saiba
mexer palavras, e doer de frente,
e tenha esse talento desconhecido
de acordar de manhã,
dormir à noite,
e ser, o dia todo, como gente,
nunca curei, como previa, a lepra
nem decifrei o delicado enigma
da letra morta que nos antecede.
Por muito te querer, talvez pudesses
dar-me um lugar qualquer mais adiante,
despir-te de pudor por um instante
e deixá-lo cobrir-te como um manto."

António Franco Alexandre

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Gritar


Apetece-me gritar até rebentar as artérias....

Apetece-me bater, correr, gritar, gritar, gritar.

sábado, 5 de dezembro de 2009

A história de Narciso


"O Alquimista pegou num livro que alguém na caravana tinha trazido. O volume estava sem capa, mas conseguiu identificar o seu autor: Óscar Wilde. Enquanto folheava as suas páginas, encontrou uma história sobre Narciso.
O Alquimista conhecia a lenda de Narciso, um belo rapaz que todos os dias ia contemplar a sua própria beleza num lago. Estava tão fascinado por si mesmo que certo dia caiu dentro do lago e morreu afogado.
No lugar onde caiu, nasceu uma flor, que chamaram de narciso.
Mas não era assim que Óscar Wilde acabava a história.
Ele dizia que quando Narciso morreu, vieram as Oréiadas – deusas do bosque – e viram o lago transformado, de um lago de água doce, num cântaro de lágrimas salgadas.
- Por que choras? – perguntaram as Oréiades.
- Choro por Narciso – disse o lago.
- Ah, não nos espanta que chores por Narciso – continuaram elas.
- Afinal de contas, apesar de todos nós sempre corrermos atrás dele pelo bosque, tu eras o único que tinha a oportunidade de contemplar a sua beleza.
- Mas Narciso era belo? – perguntou o lago.
- Quem mais que tu poderia saber disso? – respondera, surpresas as Oréiades. – Afinal de contas, era nas tuas margens que ele se debraçava todos os dias.
O lago ficou algum tempo em silêncio. Por fim, disse:
- Eu choro por Narciso, mas nunca tinha percebido que ele era belo.
“Choro por Narciso, porque todas as vezes que ele se debraçava sobre as minhas margens eu podia ver, no fundo dos seus olhos, a minha própria beleza reflectida.”"

Começa assim, o mais belo livro que algum dia li.....
Quatro vezes foi relido, nas mais variadas alturas da minha vida. A primeira vez foi aos 13 anos, a quinta vez será aos 27 anos.

Este livro têm nas suas palavras uma mística inexplicável. Cada vez que o re-leio sinto-o de outra forma.
Hoje ao recomeçar, esta história de Narciso, fez-me recordar um velho e grande amor.
E percebi que se se hoje choro, porque as vidas tomaram rumos diferentes e distantes, não é por esse velho amor ter sido belo, mas sim porque cada vez que eu olhava bem dentro do seu olhar, via a minha própria beleza, a minha verdadeira essência.
Agora que não o tenho, percebo que a beleza até pode continuar em mim, mas eu, deixei de ter a capacidade e os meios de a ver.

Sem esse velho e grande amor.... a vida continua, mas a história essa é outra.

Voltando às páginas do “Alquimista” de Pedro Coelho..... até breve.

Um pouco de nós!

Gosto de ti como quem gosta do sábado,
Gosto de ti como quem abraça o fogo,
Gosto de ti como quem vence o espaço,
Como quem abre o regaço,
Como quem salta o vazio,
Um barco aporta no rio,
Um homem morre no esforço,
Sete colinas no dorso
E uma cidade p’ra mim.

Gosto de ti como quem mata o degredo,
Gosto de ti como quem finta o futuro,
Gosto de ti como quem diz não ter medo,
Como quem mente em segredo,
Como quem baila na estrada,
Vestido feito de nada,
As mãos fartas do corpo,
Um beijo louco no porto
E uma cidade p’ra ti.

Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me.
Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me.

Gosto de ti como uma estrela no dia,
Gosto de ti quando uma nuvem começa,
Gosto de ti quando o teu corpo pedia,
Quando nas mãos me ardia,
Como silêncio na guerra,
Beijos de luz e de terra,
E num passado imperfeito,
Um fogo farto no peito
E um mundo longe de nós.

Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me.
Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me.
Por Pedro Abrunhosa: Ilumina-me