quarta-feira, 5 de agosto de 2009

As pessoas de nós

Há quem considere que as vidas se cruzam por se cruzarem, eu acredito que cada um interfere no destino de alguém, que (des)compõe e delimita, abarca e restringe vivências.
Muitas perduram no tempo como retratos de parede, muitas desaparecem na primeira mudança da folha, quando chega o Outono, e muitas são as que vêm com as primeiras chuvas e ficam à espera que nós desabrochemos aos primeiros raios de sol de Inverno.

Há quem me tenha trazido a loucura e o prazer, a paixão e a ansiedade, a vertigem e o abismo, a certeza e a consciência, a rebeldia e a extravagância, a monogamia e a fidelidade.
Há quem me tenha trazido a paz e a verdade, a preserverança e a tranquilidade, o prazer de ser sem ter de ser ainda mais, de apenas ser e de não ter de dar para receber, e receber!
Há quem me tenha trazido a conquista, a luta e a frustração, a distância e a ausência (coisas tão diferentes), a guerra interior, a perda e a vitória, a revolta e a certeza de que há caminhos que não são nossos, mas que mesmo assim, apenas pelo prazer por prazer.... vale a pena trilhá-los.
Há quem me tenha trazido a sabedoria e a concentração, o afecto e a presença, a memória, a alma e o coração, e me tenha feito dar sem querer receber e acreditar que essa talvez seja a melhor parte.

Todos (estes) são os retratos que figuram na moldura de mim, são rostos que existem em mim porque eu quero que permaneçam, são histórias que tiveram os seus momentos de felicidade e de tristeza.... que tiveram os seus momentos.
São jóias secretas e guardadas onde habita a mais nobre manifestação de afecto e respeito: a memória.
São os que compõe a história, que traçam caminhos, que galgam montanhas, que baloiçam no vento, que pisam as folhas secas da mudança de estação e se aninham no vulgo termito dos livros, quando as palavras acabam e se lê: The End.
Sem finais felizes ou trágicos.... apenas com(sem) finais.

Não devemos, dramatizar as despedidas e as partidas, tudo tem o seu tempo, todos temos o nosso.
O que hoje terminou para mim, começará para outra pessoa, o que hoje me torna infeliz faz a felicidade de alguém, e é aí que reside a nobreza dos sentimentos.
Não podemos desejar que tudo o que amamos seja duradouro dentro de nós, porque o que é intocável aos olhos do nosso coração é totalmente livre aos olhos do destino, e o vento sopra em tanta direcção, que remar só por remar é estar a um passo do abismo e construir aí o nosso abrigo.
Deixemos o mundo tratar de nós... a vida saberá reservar para nós o que estamos dispostos e preparados a receber.

3 comentários:

  1. Tanto que me fazes pensar...
    Nem imaginas como as tuas palavras letra por letra penetraram a minha alma...
    Poxa... ler-te dá calafrios e muito que pensar. Alguams das coisas que gostava de não o fazer...
    Sou comodista...
    Beijinhos e obrigado pela reflexão forçada.

    ResponderEliminar
  2. Caro Mário,

    Dos post que mais gostei de escrever e que mais gosto de reler são:

    Abrigo em Março
    Sopro em Fevereiro
    Inveja em Fevereiro

    Se tiver oportunidade leia.

    Obrigada pelas palavras! Mas às vezes não pensar só piora!

    ResponderEliminar
  3. Não existe um fim sem um novo começo...a tua infelicidade pode ser a felicidade de outro e um dia a tua feliciade poder ser a tristeza de alguém...o vento sopra em caminhos incertos no qual nós não podemos controlar nem decidir o seu destino!
    E continuo achar que tens um Dom incrível para escrever, continua porque no meio das tuas palavras eu reconheço me nelas.

    ResponderEliminar