sexta-feira, 17 de julho de 2009
Ela III
Voltou a sentir-se desconfortável nesta sua nudez de sentimentos.
Pulvorizada pelos odores que ainda habitavam na sua pele, demorou a aceitar a desocupação, mesmo que imaginária, desse corpo no seu.
Não que sentisse ainda o peso debruçado sobre as suas costas, não que o ouvisse ainda respirar por detrás da sua nuca, mas porque as lembranças são sempre muito mais difíceis de ir embora! E esta permanecia guardada nesse sotão do olhar, a alma.
E o pior é que em tempos se achou curada.
Em tempos foi um tempo tão antigo....
Sentiu-se despojada de si, completamente transponivel.
Saíu, como faz sempre que se sente esmagada contra o chão do seu quarto.
Não levou consigo a alma, não levou consigo os fragmentos dessa lembrança, dessa vivência.
Achou que a leveza da noite lhe traría alguma paz. Que os passos mudos do mundo lhe devolvessem o caminho, agora empedrado!
Devolveu-se à noite.
Respirou fundo e voltou a casa, onde a alma a esperava sem sobressalto, sem vontade de se despir novamente a esse odor de outros tempos, sem se tornar vagabunda da sua própria submissão!
Ergueu os ombros, mesmo de coração perdido, porque a alma guarda sempre em lugares inacessíveis as lembranças dificeis.
Desfez a cama e dormiu.
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